tag:blogger.com,1999:blog-50134240478725097172024-02-20T09:05:55.187+00:00encontros que ocorrem quando pedalamos pelas ruas de um qualquer lugarCátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-27211238683260131872015-09-08T09:00:00.000+01:002015-09-08T09:00:13.614+01:00passado, presente e futuro dos caminhos de ferro em Portugal...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Este verão, virei costas ao mar e fui para o interior do país. Mais ainda, fugi do sul e fui para o norte. Perdi o medo das longas subidas e, assim, explorei terras e caminhos que não conhecia, ou de que já me tinha esquecido.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">O elo de ligação foram as linhas de comboio, do passado e do presente. Umas ainda com comboios, as outras já só com as rodas de mais ou menos bicicletas, e os pés de alguns caminhantes. Resumidamente:</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">- linha do Norte, entre Lisboa e Porto;</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">- linha do Douro, entre Porto e Peso da Régua;</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">- linha do Corgo, entre Peso da Régua e Vila Real;</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">- linha do Vouga (a das voltas), entre Ribeiradio e Viseu;</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">- linha do Dão, entre Viseu e Santa Comba Dão. </span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Atravessei paisagens lindíssimas, quase a mergulhar nas águas do rio Douro, a trepar o vale do Corgo, a atravessar os túneis de pedra ou de folhas da linha das voltas e a rolar pelo tapete de betão colorido da ecopista do Dão. Fui banhado por um sol escaldante a empurrar o mercúrio acima dos 35º, e batido por chuva torrencial que só não me chegou aos ossos porque tenho umas camadas naturais que me isolam. Mas, estas 5 linhas de comboio contam uma mesma história. O fio condutor é o da evolução dos caminhos de ferro em Portugal ou, na verdade, nalguns casos, a falta dessa evolução.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Viajei a 200km/h no InterCidades, fazendo-me sentir que, afinal, até estamos num país desenvolvido. Até pude transportar a minha bicicleta sem ter de argumentar. Está previsto, há espaço específico para a minha amiga de 2 rodas, e nem sequer é necessário pagar mais por ela. Um claro sinal de ares de modernidade que sopraram para os lados da CP.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Chegado ao Porto, deparando-me com o InterRegional que segue até à Régua, é-me relembrada toda a sabotagem por que têm passado algumas linhas de caminho de ferro deste país. Na sequência de interesses mafiosos dos nossos governantes das últimas décadas, a linha do Douro, com um potencial turístico enorme, ainda tem a circular comboios sujos, velhos e gastos, com cheiro a Diesel, que demoram mais de 2 horas a fazer um percurso que, de carro, demora pouco mais de uma. E, para levar a bicicleta, foi necessária alguma diplomacia e muito boa vontade do revisor desse comboio!</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Da Régua até Vila Real, percorri uma das vítimas caídas dessa estratégia de desinvestimento nos caminhos de ferro. A antiga linha do Corgo que sobe, socalco a socalco, até à capital transmontana está completamente ao abandono. Já não existem carris, os apeadeiros estão quase todos abandonados e degradados, e tão pouco existe qualquer aproveitamento daquele percurso para outros fins. É BTT fácil, mas não é viável com qualquer outro tipo de bicicleta. No posto de turismo da Régua, muito voluntariosos, apenas me souberam dizer onde podia tentar apanhar a linha.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Uns dias mais tarde, encontrei-me com a linha do Vouga. Esta foi outra vítima da febre das auto-estradas que tem assolado este país. A maior parte do seu percurso também está, praticamente, ao abandono. No entanto, notam-se alguns tímidos focos de desenvolvimento daquele traçado. Algumas das estações foram transformadas em espaços de lazer e/ou convívio para quem por ali ainda vive. </span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Sobretudo, é de louvar o excelente trabalho que o centro de BTT de Vouzela desenvolveu com a marcação de percursos. Por enquanto, e não sei se eternamente, é difícil fazer aqueles trajectos sem ser numa bicicleta de BTT ou, pelo menos, com pneus bem largos e algum rasto. A que me transportou nestas férias, apesar de ser essa a sua vocação original, há muito que ficou o B e desapareceu o TT. Apesar disso, já tinha sido posta à prova no Corgo e aqui também não me deixou ficar mal. Houve, no entanto, vários troços onde receei que os pneus não iriam aguentar tanta pedra.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Fora dos limites desses percursos, por vezes, era quase impossível seguir o trajecto da linha. Em vários locais, a pressão urbana já destruiu os vestígios desses tempos, não tão longínquos assim, em que existia uma verdadeira rede de caminhos de ferro neste país.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Finalmente, aquele que era um encontro há muito desejado com a Ecopista do Dão, a partir de Viseu. Enquanto que as linhas que percorri anteriormente estavam total ou parcialmente abandonadas, esta, apesar de já não ser um caminho de ferro, mostrava um excelente aproveitamento. O traçado entre Viseu e Santa Comba Dão está totalmente pavimentado, marcado de 500 em 500 metros (!?!), equipado com material de manutenção física e bancos em zonas de estar. As estações e apeadeiros, na sua maioria, sobreviveram à razia do caminho de ferro e são cafés ou outras infra-estruturas de apoio. Até existe um regulamento de utilização desta ecopista, já que em Portugal muito se gosta de criar regras, inúteis ou não, mas frequentemente ignoradas e desobedecidas.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">O desejável seria continuarmos a ter um serviço de comboios que nos permitisse chegar, pelo menos, às capitais de distrito e principais cidades do país. Se linhas como a do Douro ou do Oeste não resistirem à sabotagem destes tempos "modernos", resta-nos que, no mínimo, evoluam no sentido em que evoluiu a do Dão. Esperar que as belas paisagens das linhas do Corgo, do Vouga, do Mondego e, sabe-se lá mais quantas, possam num futuro breve ser apreciadas ao ritmo da bicicleta, sem os cuidados que um percurso de BTT exige.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Infelizmente, numa revelação da forma como é encarada a bicicleta por muitos autarcas, a luxuosíssima Ecopista do Dão, com todo o seu exagero de marcações de distância, equipamentos de exercício físico e outros requintes supérfluos, termina num trilho de 200 metros, estreito, mal sinalizado e de piso tão mau que parece que, afinal, ainda rolamos pela gravilha abandonada da linha do Corgo. Chegando à estação do Vimieiro, a uns escassos mil metros de Santa Comba Dão, para chegar a essa cidade é preciso adivinhar o caminho e entrar no IP3, com trânsito muito intenso e velocidades elevadas. Simplesmente, não existe ligação e a ecopista acaba, ali, um pouco como começa em Viseu, meio perdida por entre prédios, sem sinalização.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Se calhar, ainda vai demorar algum tempo... </span><br />
<br /></div>
Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-74227303279329022132014-12-02T08:48:00.000+00:002014-12-02T08:48:00.235+00:00drivers are mean to each other!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">O encontro de hoje foi com um ciclo-turista australiano. Passei por ele no paredão entre Caxias e a Cruz Quebrada, quase no final, e quando estava para desaparecer pelo túnel, em direcção ao cruzamento da Marginal no Estádio Nacional, ocorreu-me verificar se ele sabia o caminho. Como seria de esperar, ficou para ali feito barata tonta, sem saber se havia de meter para a praia da Cruz Quebrada, ou ir atrás de mim.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Abordei-o, primeiro em português, e como ele me respondeu em inglês, expliquei-lhe o caminho, e porquê. A CMO está a fazer uma ciclovia. Isso pode parecer muito bom mas, tendo em conta aquilo a que o Município de Oeiras gosta de chamar de "rede ciclável", não consigo evitar alguma apreensão. Além disso, está a fazer uma onde já existia um caminho ciclável (apesar de alguns buracos e poças de lama ocasionais), mas teima em não resolver o problema do único troço onde não há qualquer alternativa viável à Estrada Marginal: entre Caxias e Paço d'Arcos.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">O T já estava habituado a "highways", pelo que apanhar a reta do Dafundo não o assustou. Viemos a bom ritmo a pedalar a par, comigo a querer saber um pouco mais do que o trazia por ali. Estava a viajar há 8 meses, desde Istambul, e já tinha percorrido 16.000 km pela Europa!!! Grécia, Balcãs, Europa Central, Holanda, Reino Unido, França, Espanha e, finalmente, Portugal.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Como era australiano, e reparei que não levava capacete, perguntei-lhe como estava ser a experiência de pedalar sem capacete. Comentou que estava a adorar, sendo a primeira vez que o tinha deixado pendurado nos alforges. Há tempos que não apanhava sol e estava a aproveitar cada raio disponível. Confirmou-me aquilo que já muitos sabemos: na Austrália é obrigatório e muita gente deixou de utilizar a bicicleta por causa da obrigatoriedade do capacete.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Depois, quis saber como estava a ser a experiência dele no nosso país. Não consigo evitar aquela vaidade de ouvir os estrangeiros a serem simpáticos, genuinamente ou não, ao descreverem como adoram a nossa comida. Também eu adoro a nossa comida. E como reparou que uma grande parte da população está tão densamente concentrada no litoral. Adorou as nossas montanhas, mesmo que sejam de brinquedo, comparadas com as da Europa Central.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Quando nos aproximávamos de Belém, fui-lhe falando dos monumentos, dos 500 anos da Torre de Belém, da grandiosidade dos Jerónimos. Apesar de ser a zona mais turística de Lisboa, aconselhei-o a passar ali um par de horas.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Finalmente, porque ele estava com um furo lento, parámos junto ao Padrão dos Descobrimentos. O tema seguinte deitou por baixo o meu orgulho na mãe pátria. </span><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Ele fez questão de
reparar que, porque existem auto-estradas por todo o lado, as estradas
secundárias têm pouquíssimo trânsito. Mas depois, </span><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">começa a comentar como os condutores portugueses são tão agressivos. Os piores que tinha encontrado até agora, nos seus 16.000 km de viagem. Piores do que gregos! E termina com um "drivers are mean, not just to me, but to each other!".</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"></span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Podemos ter monumentos grandiosos, comida saborosíssima, sol radioso ou gentes calorosas. </span><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">As
mesmas pessoas que constroem aqueles monumentos, cozinham os nossos
pratos, vivem debaixo deste sol ou acolhem os visitantes transformam-se
em seres vis quando se encontram aos comandos de um automóvel.</span></span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF</span></div>
Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-68044440966349036482014-11-14T21:03:00.000+00:002014-11-14T21:03:51.964+00:00Porque é que um ciclista chega atrasado?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Há umas semanas, tinha um almoço com velhos amigos, no Bairro Alto. Fui para Lisboa de comboio, para ter tempo de subir a colina sem pressas, dando a volta pelas ruas menos movimentadas e menos íngremes.<br />
<br />
À chegada ao Cais do Sodré, voltei a confirmar que ainda tinha tempo de tremelicar pela Ribeira das Naus para aproveitar o maravilhoso sol que se fazia sentir, já em pleno Outono. Depois de passar o edifício das agências europeias, ouço alguém chamar o meu nome com uma pronúncia difícil. Não foi difícil detectar a origem, pois o C também já me acenava do alto dos seus quase 2 metros de altura.<br />
<br />
Foi uma agradável surpresa. Ele tinha-me avisado que estaria em Lisboa de férias, mas não me tinha confirmado datas, e tinha acabado de chegar. Andava à procura da loja de aluguer de bicicletas e, assim, caminhámos até lá. Pusemos rapidamente a conversa em dia, e combinámos um ponto de encontro para depois de almoço. E lá segui eu, agora já sem grande margem para desfrutar da paisagem, ou do sol.<br />
<br />
Ao chegar à Praça do Município, porque era hora de almoço, lá me dou de caras com o D. Mais 2 dedos de conversa, mas como ele é patrício, e encontramo-nos frequentemente, permiti-me despachá-lo porque, afinal de contas, ainda nem tinha começado a subir. E agora, já não podia nem sequer olhar para as pessoas bonitas que preenchem a zona da Baixa e do Chiado, à hora de almoço de um dia de semana. Era o mais depressa possível, até ao Bairro Alto.<br />
<br />
Cheguei ao restaurante marcado, e já me aguardavam os meus companheiros de muitas aventuras, menos das que são em duas rodas. Além de algumas risadas, deu para ouvir um deles, em tom gozão, a dizer: "afinal o ciclista é que chega atrasado!"</div>
Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-62430830805036208332014-04-04T21:38:00.000+01:002014-04-04T21:38:15.137+01:001 disco, 2 rodas, 3 pessoas e 4 patas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
Viajar de bicicleta no nosso pais, felizmente ou infelizmente, ainda nos coloca numa posição de destaque. Sobressaímos por entre os automóveis, e suscitamos perguntas de quem connosco se cruza. Entre outros motivos, temos a liberdade de irmos para onde quisermos, quando quisermos, e não nos limitarmos a seguir as estradas com o resto do rebanho.<br /><br />Por outro lado, viajarmos sozinhos ou, mesmo, estarmos sozinhos, costuma dar-nos mais abertura para contactarmos com quem nos rodeia. Vêem-nos, apercebem-se da nossa presença e espantam-se, instigando curiosidade e suscitando perguntas. E, assim, frequentemente surgem agradáveis conversas ou, como neste dia, interacções.</div>
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<br />Na praia do Amado, depois de a ter atravessado para o extremo sul, fugindo à multidão, e de ter explorado os muitos recantos por entre dunas e rochedos, lá encontrei um spot que me agradou. Dali, poderia apreciar o pôr do sol, não era uma zona de passagem, estava mais elevado, dando-me alguma privacidade. Além disso, por ser entre duas pequenas dunas, providenciava-me abrigo suficiente do vento, mas não me roubava a panorâmica sobre o areal.</div>
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Instalei-me para comer qualquer coisa e apreciar as últimas horas de sol. Não levava grande aparato. Tinha parado, uns quilómetros antes, num trilho, para apanhar amoras. Muitas, de um grande arbusto, bem carregado delas. Deu para encher até meio o meu mini-tacho, e com algum pão, queijo, chouriço e tomate, foram uma bela refeição, ligeira mas agradável.<br /><br />Durante esta viagem, tive sempre dois fieis companheiros, além da burra: o meu disco e as mulheres de Peito Grande, Ancas Largas. Não fazem exactamente o meu tipo (se é que isso existe), mas era o título do livro, também ele volumoso, que me acompanhou durante o verão. 600 páginas de uma epopeia familiar durante a China do século 20, da autoria de Mo Yan, recentemente galardoado com um prémio Nóbel da literatura.</div>
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Nesse dia, porém, a companhia que surgiu foi diferente. Um amigo de quatro patas, grande e peludo, veio sentar-se a poucos metros de mim, fitando-me com um olhar de quem diz "dá-me lá uma trinca disso que estás a petiscar". Não ladrou, não se aproximou demais, não sei para não parecer muito insistente, ou para não dar um ar de desespero. E, perante uma postura tão civilizada, não resisti e atirei-lhe um pedaço da minha sandes. Comeu-o em três tempos e por ali se deixou ficar.<br /><br />Passado um bocado, como ele não abalara, lembrei-me do disco. Se é verdade que nós, humanos, podemos divertirmo-nos imenso com esse pedaço de plástico, não é menos verdade que muita gente o associa a brinquedo de cão. Assim, tirei-o da mochila, agitei-o um pouco à frente do cão que, imediatamente se pôs de pé. Na pior das hipóteses, ele deixar-se-ia ficar por ali, na esperança de que eu fosse buscar o disco e lhe desse oportunidade de atacar o meu farnel.<br /> </div>
<div style="text-align: justify;">
Saquei um pull para o meio do areal, cão e disco saíram disparados, e eu fiquei na expectativa de saber se voltaria a ver algum deles. Correu bem, e o cão, como que por instinto, trouxe-me o disco de volta. Perante esta inesperada hipótese de matar saudades do disco, não pensei duas vezes. Arrumei o que tinha a arrumar, lancei o disco novamente, e desci para a zona plana da praia para ir receber o disco.</div>
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<br />Ficámos nisto uns bons 15 ou 20 minutos. Eu aproveitava para fazer uns lançamentos, ora contra o vento, ora a favor do vento, e o cão corria zarpava atrás do disco. Noutras ocasiões, fazia um hover sobre o cão, para ver até que altura ele saltava na ânsia de apanhar o disco.</div>
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Só que, a certa altura, o quadrúpede, em vez de me trazer o disco, decidiu ir lavá-lo. Já não estava a contar ir à água, estava de calções que não era suposto molharem-se, e o nevoeiro ameaçava e tirava-me a vontade de me molhar. Mas teve de ser, pois só assim recuperaria o disco. O cão ainda se fez de difícil, mas lá acedeu em deixar-me apanhar o disco, e assim se acabou a brincadeira. Despachei-o com um ar severo, e voltei para o meu poiso.</div>
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<br /></div>
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Depois de mais uma noite muito bem passada, acordo com uma manhã cinzenta e húmida. O sol não se quis mostrar e, perante esse cenário, pensei que o melhor que tinha a fazer era preparar-me para abalar cedo para outro destino. Esse era o plano, mas enquanto tomava o pequeno almoço, vi passar o meu amigo de quatro patas, acompanhado do dono, surfista de prancha grande, em direcção à água. E, poucos minutos depois, porque talvez o cão não seja grande surfista, ou porque simplesmente é mais adepto do frisbee do que do surf, lá o tinha outra vez ao pé de mim. Resolvi dar-lhe nova oportunidade mas, passado algum tempo voltou a fazer a mesma brincadeira. Lá voltei para o meu recanto, com o disco lavado, e os pés molhados.</div>
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Não muito tempo depois, apareceu-me o dono do cão, com um simpático convite para me juntar a ele e à mulher, na caravana deles, para tomar qualquer coisa. A dita caravana era uma muito recente VolksWagen California, com muitos extras, entre os quais a tracção 4x4 que o permitiu chegar aquele local remoto. Era um casal alemão, entre os 35 e os 40 anos de idade, que viajavam naquele veículo na companhia do cão, grande, e de um bebé de 4 meses, muito pequenino. Incrível o que era possível acomodar dentro daquele carro que, apesar de tudo, não é maior do que muitos outros que circulam pelas cidades no dia-a-dia.</div>
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Ele era ex-profissional de kite-surf e windsurf, ela professora primária, e tinham vindo aproveitar umas poucas semanas de férias, à procura de praias desertas, sol em abundância e, eventualmente, algumas ondas. Vinham do centro da Alemanha, onde tudo isso é escasso ou inexistente, com um espírito de comunhão com a natureza, com a praia e com o mar. Quantos casais portugueses conhecem que fariam uma viagem destas com uma criança tão pequena?</div>
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<br /></div>
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E, assim, passámos um par de horas a conversar. Sobre as suas viagens como atleta profissional, confirmando-me que o windsurf, embora seja uma modalidade muito agradável, tem realmente o grande problema das dimensões do equipamento. Ou, de alguns locais por onde já passáramos os dois, comparando notas. Ou do estilo de vida que cada um tinha, num país e noutro. Foram umas poucas horas de conversa casual, interessante e agradável, à volta de uma caneca de chá quente que me "soube a pato".</div>
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Como já era perto do meio-dia e o sol não se mostrava. Chegou a altura de nos despedirmos. Não iríamos ficar grandes amigos e nem sequer trocámos contactos. Não foi porque a companhia não nos tivesse agradado. Antes pelo contrário, estou certo que eles tiveram tanto prazer com aquela troca de impressões quanto eu. Simplesmente, estes momentos não são repetíveis, porque só existem graças a um combinar de imensos factores, que os tornam tão únicos que não vale a pena tentar reproduzi-los. Afinal, desta vez, o encontro não fora provocado por haver bicicletas em comum. Apenas porque havia um disco, e um cão.</div>
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RF </div>
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Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0Praia do Amado, Portugal37.175200969488614 -8.908017296386788137.162549469488617 -8.9281872963867883 37.187852469488611 -8.8878472963867878tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-8365887175703386392013-10-28T14:14:00.001+00:002013-10-28T14:16:53.845+00:00Rolar a par<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Durante a viagem das férias de verão, depois de atravessar os lindos arrozais entre a comporta e o carvalhal, e já na estrada, passa repentinamente por mim um ciclista numa estradeira. Hello, diz-me ele. Eu ia absorto com os meus pensamentos e, após um sobressalto inicial, fiquei picado e decidi que não o deixaria fugir. Apanhei-lhe a roda e assim seguimos por uns poucos quilómetros. Depois de alternarmos de posição uma ou duas vezes, o peso e os pneus cardados da minha bicla começaram a dar-me sinal de que não poderia prosseguir naquele ritmo.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Acenei ao X em jeito de despedida e abrandei. Para minha surpresa, ele abrandou também e colocamo-nos a par. Ele disse-me qualquer coisa em inglês, ao que eu lhe respondi igualmente nesse idioma. No entanto, percebi que essa não era a sua língua materna. Afinal era português, só que partira do princípio que nenhum nativo viaja sozinho de bicicleta. De facto, aos olhos de muitos amigos, ainda passo por "fanático das bicicletas". Parece que eu fazer de bicicleta os meus percursos do quotidiano, em vez de os fazer de carro, como muitos, me qualifica dessa forma. Serão eles fanáticos do carro?</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Depois de esclarecermos a questão da nacionalidade de cada um, prosseguimos lado a lado, em amena cavaqueira, por aquela estrada pouco movimentada. Ele estava de férias na região, e fazia a sua voltinha matinal. Eu estava de passagem, nas primeiras de algumas horas de viagem. </span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Naquele dia, como o X repetia o percurso de vários outros dias, eu fui uma quebra na sua rotina. Uma variação por entre as mesmas curvas e as mesmas subidas. Em comum, apenas o facto de nos deslocarmos em 2 rodas não motorizadas, permitindo-nos a disponibilidade para contactarmos com o que nos rodeia.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Durante cerca de uma hora, até à vila de Melides, falámos de variadíssimos assuntos. Um dos que veio a baila foi precisamente as alterações ao código da estrada, que tinham sido aprovadas uns dias antes. Entre outras regras, passou a ser permitido rolar lado a lado porque, de facto, esse tipo de formação protege os ciclistas em diversas situações.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Naquele dia, pude verificar que além de ser mais seguro, é muito mais agradável. Das poucas dezenas de carros que passaram por nós, apenas um protestou por o termos atrasado uns poucos segundos. Há uns meros 3 ou 4 anos, penso que esse mesmo condutor não seria a excepção. As mentalidades mudam, e os decretos legislativos são apenas um pequeno passo, de muitos que ainda é necessário dar para que, um dia, já não pareça estranho um tuga a viajar sozinho de bicicleta, no seu próprio país.</span></div>
Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-26717718045783708732013-06-15T01:11:00.001+01:002013-06-15T01:15:29.481+01:00Sto António de bicicleta<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Não me chamo António, nem tão pouco sou santo mas, na 4ª-feira, véspera do dia máximo lisboeta, pedalei pelas ruas de Lisboa. Não foi para sentir o cheiro das sardinhas, de que não gosto mesmo. Mas senti o cheiro das ruas e, principalmente, a sua cor<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"> e os seus sons.</span></span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Vim a meio da tarde para Lisboa e, como tinha um par de horas livres, aproveitei para visitar Alfama antes da confusão da noite. A azáfama já era muita, as brasas já fumegavam e os primeiros grelhados já se cheiravam. Adoro pimentos assados!</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Às cinco da tarde, até de bicicleta ainda se conseguia circular pelas ruas mais típicas daquele bairro. E não era o único. Cruzei-me com mais duas pessoas que por ali pedalavam. Desconhecidos.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Depois, com a justificação de precisar de apertar o selim, aproveitei o facto de ser quarta-feira para dar um saltinho à cicloficina. De passagem, fui espreitar o largo do Intendente, onde o movimento não era o que se esperaria daquele local tão comunitário. Uma marca de bebidas promovia mais um dos seus megalómanos eventos e, embora a ideia até fosse original - um palco vertical nas janelas de um lindo edifício - parecia ser excessiva para a dimensão daquele local. A parafernália pesada obstruía parcialmente a fachada, bem como uma boa parte da área da praça.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Encontrei o S, um bocado irritado com a situação, porque lhe venderam uma lebre e entregaram-lhe um gato. Não sei se ele gosta de gatos, mas daquele não gostou com certeza. Para desanuviar, pedalámos juntos até ao RDA, mas ainda era cedo e não estava lá quem procurávamos. Não fez mal. Não foi preciso interrompermos a conversa que veio connosco do Intendente até ali, e ainda regressou. Afinal, o S tinha as ferramentas e pude dar o aperto de que eu necessitava.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Entretanto, era tempo de rumar a Sta. Catarina, onde iria passar o serão. Comecei a descer a Almirante Reis, mas na primeira dezena de metros lembrei-me que era melhor ideia ir por cima. É tão fácil mudar de ideias quando estamos na bicicleta! E, ainda bem que o fiz. Mais acima, na Pascoal de Melo, cruzei-me com o P, que vinha em sentido contrário. Um U rápido e cuidadoso, e encostamos para dois dedos de conversa. Planos para a noite? Para onde vais? Concluímos que dificilmente nos iríamos cruzar. E assim foi.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">A caminho do meu destino, ainda tive tempo para passar pela janela da R. O filhote dela, apesar de não me ver há uns meses, lembrava-se perfeitamente de mim. Os pais não estavam e, por isso, segui caminho.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Rua da Rosa abaixo, ainda pude observar a vida do Bairro Alto com os seus habitantes. Miúdos a irem para casa, ou mesmo a brincarem na rua. Deve ser isso a que alguém chamou free range kids. Devia haver mais, mas cada vez são menos, que as mães são cada vez mais galinhas.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Já próximo do meu destino para a noite, ainda me cruzei com a N e o J. Já não os via há uns tempos, que são de outras andanças. E, finalmente, lá cheguei a casa da C. Já os pimentos estavam na brasa, a cerveja no gelo, e uns comes no tabuleiro para se ir picando. As sardinhas tiveram prioridade sobre as febras e a entremeada, a minha escolha, mas fui entretendo o palato com o pão bom e as saladas.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Os amigos foram chegando, algumas caras conhecidas e outras não. O encontro da noite foi a J, que me diz que adora andar de bicicleta, mas que vai de carro para o escritório, a uns 5 kms de casa, em terreno plano. Sacrilégio! Mantendo a metáfora eclesiástica, falei-lhe dos evangelhos e procurei a conversão. Tenho fé que o baptismo esteja para breve. J, se e quando leres isto, confirmar-me-ás se estava certo ou errado!</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">até breve</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF</span>Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-74203650334527639902013-05-18T20:27:00.001+01:002013-05-19T14:36:18.239+01:00pomba da fruta<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Entre um gelado delicioso, e uma reunião proveitosa, tive um intervalo de poucos minutos e curtas centenas de metros para um encontro inesperado com a M.</span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Pedalava ali das docas em direcção ao Cais do Sodré quando, por entre o chocalhar do pavimento da ciclovia tipicamente lisboeta, reparei num bonito cesto na traseira de uma bicicleta. Reconheci! Persegui! Apanhei!</span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A M vinha do trabalho, com horários marcadamente diferentes dos meus, naturais de quem tem crias para cuidar. Conheço-a há pouco tempo, mas já partilhámos umas dezenas de quilómetros juntos, por entre prados, rios, palmeiras, casas e prédios.</span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Como eu, adora ter o rabo sentado no selim, com tudo o que de bom isso nos enriquece. Neste dia, partilhámos algumas palavras e ideias. Chegado ao destino, passei-lhe o testemunho do Sexta de Bicicleta, sob a forma de uma bela etiqueta. Despedi-me sem vontade, porque tivemos de cortar por ali muito que ainda poderíamos ter conversado. Um até breve que assim foi.</span><br />
<br />
RFCátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-81554660173225725572013-05-01T23:41:00.002+01:002013-05-19T14:36:42.867+01:00pitadas de tempero<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Deslocarmo-nos de bicicleta tem destas coisas: viramos numa rua em vez da seguinte, e deixamos o acaso tomar conta do nosso tempo.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Era a segunda vez que ali ia. Na sexta-feira, tinha subido montado na bicicleta e, por isso, fui por uma rua um pouco mais acima, que é menos íngreme. Hoje tinha um pouco mais de tempo e decidi virar logo na que tinha à minha esquerda, subindo-a a pé.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">No primeiro quarteirão, olho uns metros para a frente e vejo o P a descer a rua, com uma lata de tinta numa mão, o rolo noutra, e o macacão para lhe proteger a roupa. Já tinha aquele sorriso que não seria muito diferente do meu. O sorriso de quem aprecia estes encontros ocasionais.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Conversámos uns minutos, ele contou-me o que andava a fazer por ali, os novos projectos. Contei-lhe que vira as fotografias do facebook, com os cepos de árvores pintadas. Pude partilhar a minha opinião com ele. Ele transmitiu-me algumas preocupações. Depois, cada um prosseguiu o seu dia, um pouco mais preenchido por aqueles minutos não previstos.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Mais acima, já no último quarteirão, alguém me chama. A alcunha utilizada deixa-me adivinhar um grupo restrito de pessoas. Era o B, admirado por me ver ali, no território dele. Contou-me a última aventura de bicicleta, com um outro amigo comum. Vi umas fotografias e fiquei com inveja de não ter participado. Serviu-me de estímulo para não deixar cair a ideia de partir. Trocámos mais umas larachas e, aqueles minutos a mais que tinha ao início da rua, foram assim consumidos.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">A meio da tarde, tive um intervalo de uma hora. Aproveitei para ir passear. O Príncipe Real é sempre um local apetecível. A pé, a distância era demasiada. De carro, seria passar essa hora à procura de estacionamento por lá, e depois no regresso. Ainda bem que estava de bicicleta.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Sentei-me na esplanada do quiosque e, passados poucos minutos, aparece o H. Mais alguém que não contava encontrar, e que já não via há muito tempo. Pusemos a conversa em dia, tanto quanto possível nos poucos minutos que ele tinha disponíveis.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Mal ele se afastou, apareceu a P que, afinal, andava à procura do H. Sentou-se comigo e falou-me do espectáculo que está a organizar, de como andava a 100 à hora, quase sem dormir. De como lhe corre a escola de dança, etc. Também lhe contei o que por ali andava a fazer, e como me estava a divertir com todos estes acasos do dia. A minha hora de recreio estava a acabar e, desta vez, fui eu que tive de me despedir.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Já ao fim da tarde, quando me preparava para subir para a bicicleta e pedalar de regresso a casa, aproveitando o maravilhoso crepúsculo primaveril, olho para o outro lado da rua e vejo o D. Já não o via há um par de anos! Atravessei a rua e, como íamos na mesma direcção, caminhámos um pouco. Rimo-nos com as desventuras da lagartagem, e brindámos tacitamente ao sucesso do benfas. Ainda fui a tempo de ouvir a actualização sobre a família dele.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Finalmente, já muito tarde à noite, entre a casa de um irmão e a praia, reparo numa cara bonita a atravessar uma rua quase deserta. Era a J! Accionei o abrandador da bicicleta, dei meia volta e entrei para o parque. Conversámos um pouco, depois apareceu o V, e a conversa prolongou-se por mais um bom bocado. Esqueci a praia porque, entretanto, o V ligou ao meu irmão R que, apesar de morar a escassos 200 metros de minha casa, nem sempre vejo com a frequência desejável. Foi preciso não combinarmos para isso acontecer.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Algumas destas pessoas não se deslocam de bicicleta. A maior parte delas diz que acha fantástico eu fazê-lo, uns até admitem que gostariam de o fazer mas, depois, lá vem a desculpa de que não dá, por isto ou por aquilo. A verdade é que tantos e tão bons encontros como estes só acontecem a quem sai da sua bolha de aço e vidro, e vive as ruas por onde vai passando, acrescentando tempero ao que, de outro modo, teria sido apenas mais um dia de trabalho.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF </span>Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-60809670903325066572013-04-05T16:43:00.003+01:002013-05-19T14:36:54.858+01:00Não sou o único!<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">A maior dificuldade de alguns regressos a casa é a solidão. Fazer aqueles quase 20 kms sem alguém com quem conversar. Sem uma roda para seguir, ou alguém a quem dar a roda.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">O percurso junto ao rio pode ser uma alternativa, em que o som da água a bater nas margens vai respondendo aos nossos pensamentos. É muito mais lento e, por isso mesmo, presta-se a um passeio, mas do que a uma viagem pendular. Mas, com a quantidade de chuva que tem caído, há uma parte do trajecto, entre Algés e a Cruz Quebrada, que fica impraticável para a minha rafeira. Logo por azar, é precisamente essa a parte da Avenida da Índia/ Marginal que eu menos gosto de fazer. Circulamos entre o muro da via férrea e um monte de prédios feios, ou chalets lindos mas abandonados (ou em vias de).</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Por isso, numa 4ª-feira de Março, regresso a casa pela Avenida da Índia, já depois da meia-noite, e com ameaça de chuva, o objectivo era chegar ao meu destino o mais depressa possível. À saída de Alcântara, olho para a paralela Avenida Brasília e vejo uma
silhueta que me chama a atenção. É uma mota? Não! É mesmo outra
pessoa a pedalar na mesma direcção que eu, apenas com uma linha de
comboio pelo meio. Um gorro de lã e uma bicicleta clássica atiçam-me a curiosidade. Deixo passar um carro por mim, e reconheço quem vai do outro lado! É o N! Chamo-o e aceno-lhe. Ele reconhece-me de imediato e responde-me com outro aceno.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Ele vai a bom ritmo, penso eu. Não o vou deixar fugir. E, sem falarmos, vamos acelerando o ritmo por cerca de um quilómetro. Depois, nuns semáforos, deixo de o ver. Eu tive de abrandar, e quase parar, e ele acabou por meter para a ciclovia, para trocar umas ideias com o rio, imagino eu.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Há dias e horas em que, num determinado trajecto, dificilmente se imaginaria uma bicicleta. Naquele dia, e àquela hora, eu era essa bicicleta! E o N era outra! Se era inimaginável encontrar outra pessoa a pedalar naquele momento, ser alguém que eu conheço seria impossível... ou não.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF </span>Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-45665949086813252822013-03-25T15:08:00.002+00:002013-05-19T14:37:10.837+01:00de capacete, sou invencível!<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Vinha de Lisboa junto ao rio, descontraído, a aproveitar o calor do sol e a frescura da brisa. Depois de passar Algés, já na zona sem carros, passa por mim uma figura alegre, que me diz olá, sem parar. Seguimos na conversa, sobre os assuntos do costume: costumas andar, por onde, bela bicicleta, etc.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">À chegada a Caxias, já depois de passar o estreito do Mónaco*, eu aproveito os semáforos próximos da estação CP para passar para a faixa de rodagem. É mais rápido e mais seguro. Ele, distraído, seguiu pelo passeio.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Esperei por ele nos semáforos seguintes, na curva dos pinheiros. Expliquei-lhe que não gosto de rolar no passeio, porque os carros não contam connosco, porque tem mais obstáculos e, obviamente, porque o passeio é dos peões.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Ele concordou em seguir pela faixa de rodagem mas, nesse caso, ia colocar o capacete. E, perguntou-me porque eu não usava. Mais uma vez, esclareci-o que o capacete não evita acidentes. É verdade que, em ínfimas ocasiões, pode evitar-nos alguma lesão mais grave mas, mais importante do que usar capacete, é estarmos atentos ao que nos rodeia na estrada e adaptarmos o nosso comportamento a essas condições.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Acabada a explicação, deixei-me ficar à espera que o sinal encarnado parasse os carros que seguiam na marginal, e o verde me desse segurança para avançar. Ele não! Avançou por entre o trânsito denso mas, mesmo assim, rápido. Tinha o capacete...</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">* o estreito do Mónaco é um troço de passeio, de uns 100 metros, que no seu ponto mais estreito, tem uns 50cms, e que fica em frente ao mítico restaurante de Caxias, com esse mesmo nome</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF </span>Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0Caxias, 2715-311, Portugal38.69844852592508 -9.2814045976563238.686056525925082 -9.30157459765632 38.710840525925079 -9.2612345976563191tag:blogger.com,1999:blog-5013424047872509717.post-79134344531302450682013-03-21T16:05:00.002+00:002013-05-19T14:37:21.997+01:00encontro com o blog<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Utilizar a bicicleta como meio de transporte é muito mais do que poupar na gasolina, na saúde ou no ambiente. </span><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">É</span> um modo de vida que nos dá oportunidade de gozar os momentos que nos preenchem os dias.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Permite-nos viver mais do que se nos deslocarmos demasiado depressa para termos contacto com quem nos rodeia. Mas, permite-nos uma velocidade que aumenta substancialmente as probabilidades de encontrarmos quem partilha o nosso caminho.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">É rara a vez que, num qualquer trajecto de A para B, em bicicleta, não me cruze com uma cara conhecida, ou desconhecida, com quem haja alguma interacção. O facto de não estarmos numa redoma de metal aproxima-nos do mundo que nos rodeia, põe-nos em contacto com velhos amigos, conhecidos ou desconhecidos.</span><br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><br /></span>
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">Circularmos de bicicleta por entre os nossos pares enriquece-nos o quotidiano. Evita aquelas horas maçadoras de falso isolamento, dentro do carro, em que não podemos tirar o macaco do nariz porque o condutor do lado está a olhar para nós, mas não conseguimos falar com o nosso amigo que passa por nós, porque também ele está dentro da sua bolha.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;">RF </span>Cátia Vanessahttp://www.blogger.com/profile/06671911753309031565noreply@blogger.com0